GuidePedia

0
Página do Cadê

Antes de o Google se expandir globalmente e atropelar todas as outras formas de consulta on-line, no final dos anos 90, a ferramenta de busca que imperava no Brasil era o Cadê, uma empresa que nasceu com pouca ambição e fruto do que se pode chamar de uma crise precoce de meia idade.
"O Cadê foi lançado como uma página pessoal", diz Gustavo Viberti, 49, que fundou o site com o colega Fabio de Oliveira. "Estava chegando aos 30 e buscava uma saída, um caminho solo."
O engenheiro, que hoje atua como consultor em projetos de tecnologia, trabalhava numa multinacional de informática e diz que sentiu o burburinho no empreendedorismo no setor, em especial nos EUA, e resolveu fazer um experimento. "Como era muito fácil testar, tirei um mês de férias e fiz a primeira versão do serviço."
Ele conta que a primeira versão do site, "muito simples", foi ao ar em outubro de 1995 com 300 páginas catalogadas "na unha". "Eram páginas de universidades, de estudantes. Surpreendentemente, a internet cresceu rápido. Muito mais rápido do que a gente imaginava."
Em um mês, esse número foi multiplicado por cinco. "Deu para ver que tinha alguma coisa aí, e ficou muito difícil, para mim, levar isso junto com o trabalho."
A partir daí, a brincadeira virou uma empresa, e o negócio deslanchou --não imune a problemas, contudo. Viberti diz que houve descrédito, a princípio. "Falar em iniciativas de internet no Brasil era algo muito difícil. Era difícil de acreditar que aconteceria [o sucesso]."
Além disso, existia a barreira do desconhecimento. "Era engraçado, porque chegávamos nas agências de publicidade e tínhamos de explicar, antes mesmo de tentar convencer as pessoas que era uma boa ideia anunciar com a gente, de que se tratava a internet."
Um episódio que ficou na memória do empresário foi quando recebeu um cheque assinado pessoalmente por Jeff Bezos, fundador da Amazon que anunciou no Cadê. "Discutimos se usávamos o dinheiro ou fazíamos uma moldura", lembra.
O pioneiro comemora a autonomia do empreendimento, e diz não se arrepender da venda. "Foi um longo caminho. A gente recebeu investimento no início e, depois, nunca mais. Vivemos de renda publicitária até o momento da venda."
"Por um lado, éramos otimistas, mas nunca imaginaríamos que cresceria tão rápido."
ALTERNATIVA AO GOOGLE
"Genial" foi a palavra que Viberti usou para descrever o Google quando teve contato pela primeira vez com o site, então em fase beta, em 1998. A diferente maneira de catalogar páginas --com varreduras automáticas em vez de humanas-- pareceu promissora, e se provaria tanto.
"Não tínhamos nem tempo de pensar nisso, tínhamos outra coisa para fazer. Mas o que o Google fez acabou com praticamente todo concorrente" --a exemplo de AltaVista e Lycos.
Fora isso, as propagandas exibidas conforme as buscas, que hoje em dia perseguem o internauta aonde quer que vá e são refinadas por informações pessoais, foram mais eficientes na internet.
"Não só fizeram um bom buscador, mas mudaram a forma de vender publicidade. A gente ia bater na porta das agências", diz.
Adquirido pela empresa americana Starmedia em 2000, o Cadê foi revendido pouco mais de um ano mais tarde por R$ 30 milhões ao Yahoo! --página para a qual o endereço cade.com.br é redirecionado hoje.
Mas a história poderia ter sido diferente, Viberti acredita. "Nós tínhamos um tamanho razoável e poderíamos ter conseguido [fazer frente ao Google]. Poderíamos ter aperfeiçoado a ferramenta com a ajuda de universidades. Mas seria muito complicado", admite.
A curadoria profissional das páginas da web, personalidade do Cadê, era preferida por alguns usuários à crueza do ainda pouco refinado algoritmo googleano, conta Viberti. Quando o site foi vendido, tinha 200 mil páginas que haviam sido inseridas e categorizadas manualmente.
"Sinceramente, acho que o fato de haver seres humanos revisando os sites ainda tem o seu valor. Não é a mesma coisa, não tem a mesma abrangência, mas é confiável e útil", afirma.
"Muitas vezes você está navegando por algo e gostaria de uma recomendação. Talvez um misto das duas coisas [varreduras robotizadas e supervisão de pessoas] fosse uma boa solução."
FUTURO
Depois da aventura com o Cadê, Viberti se dedicou à família e a projetos que não demandavam tanto tempo e esforço. "Só depois [da venda do site] consegui ser pai para o meu filho."
Sobre o cenário atual para as start-ups, ele ressalta o "dinamismo" do mercado e a existência de investidores dispostos a apostar grandes quantias nos jovens empresários.
"Hoje você pode juntar dois ou três amigos e apresentar a um fundo [de capital de risco] e aprender errando. Vejo como um ponto muito positivo. Tem muita gente imaginando e que pode fazer coisas imprevisíveis."

Fonte: Folha

Postar um comentário

 
Top